A advocacia é uma das organizações que mais precisa impulsionar a transformação cultural e valorizar a inovação. No entanto, muitas vezes a falta de atenção ao design e à cultura organizacional acaba impedindo essa evolução. É aí que entra o papel estratégico do Departamento de Pessoas (DP) - antes conhecido como Recursos Humanos - para transformar a forma como a inovação é abordada na organização.

A pandemia do COVID-19 fez com que muitas organizações mudassem radicalmente, e a importância do departamento de Pessoas ficou ainda mais evidente. Porém, é importante notar que a antiga denominação "Recursos Humanos" já sugere uma visão reducionista e desumanizada. É preciso mudar essa perspectiva e valorizar o papel dos colaboradores na inovação. O departamento de Pessoas deve ser visto como um facilitador estratégico, não apenas como uma área administrativa. As pessoas precisam ser colocadas em primeiro lugar e o nome do departamento precisa refletir isso.

Mas será que estamos realmente vendo a mudança do RH para DP acontecer de fato nas organizações? Infelizmente, muitos ainda veem o departamento de Pessoas como uma área secundária e desvinculada do negócio, e isso é uma tragédia. Não há dúvidas de que o departamento de Pessoas é a alma da empresa, e deve ser tratado como tal. Sem o envolvimento e engajamento dos colaboradores, as iniciativas de inovação serão frustradas.

É hora de mudarmos nossa perspectiva e colocarmos as pessoas no centro da transformação. O departamento de Pessoas deve ser o elo de ligação entre as estratégias de negócio e o desenvolvimento dos colaboradores. É preciso investir em treinamentos, desenvolvimento de novas habilidades e competências, cultura organizacional e, acima de tudo, na inclusão e diversidade. Somente assim teremos uma equipe altamente capacitada e engajada, pronta para enfrentar desafios e inovar.

O papel do Departamento de Pessoas é crucial no processo de transformação de uma organização, especialmente em um escritório de advocacia. É importante destacar que o sucesso da transformação depende da capacidade deste departamento de Pessoas em transformar a visão de inovação em resultados concretos.

No entanto, para que a inovação prospere, é preciso criar um ambiente propício onde as pessoas estejam motivadas e alinhadas com os objetivos estratégicos da organização. Uma cultura de inovação é fundamental para o sucesso, pois permite que as pessoas contribuam para o progresso da organização e se sintam engajadas com seus objetivos.

Infelizmente, muitas vezes existe uma dissonância entre as prioridades de curto prazo da empresa e as visões de longo prazo do departamento de Pessoas. No entanto, é importante ressaltar que, com o aumento da importância da inovação, o negócio precisa repensar sua estratégia de curto prazo e alinhar seus objetivos com os do DP. Se a prioridade estratégica da organização é construir uma cultura de inovação, então o departamento de Pessoas deve ocupar um lugar de liderança e estar envolvido nas decisões estratégicas de negócio.

É responsabilidade do departamento de Pessoas garantir que o potencial criativo de seus colaboradores seja liberado e não sufocado pelas barreiras culturais. Então, como fazemos isso? Na minha opinião, há três perspectivas-chave para promover a inovação por meio do DP.

Primeiro, é crucial que o departamento de Pessoas entenda como ele influencia onde a inovação acontece. Embora a inovação possa vir de cima ou de baixo, é necessário encontrar um equilíbrio entre as duas. Barreiras como autoridade e risco podem desencorajar as pessoas a desafiar o status quo e impedir a criatividade e inovação.

Para superar essas barreiras, é preciso criar um ambiente em que todos sejam incentivados a expressar suas opiniões e ideias, independentemente de sua posição na hierarquia. Isso pode ser alcançado por meio de ferramentas e processos que promovam a colaboração e diálogo entre todos os níveis da organização. Além disso, é preciso identificar e desenvolver agentes de mudança em toda a organização, para que eles possam inspirar e guiar a equipe em sua criatividade e inovação.

Em segundo lugar, é preciso criar um ambiente em que os profissionais sintam que têm permissão para desenvolver e testar novas ideias. Isso significa estabelecer um ambiente de trabalho que incentive a criatividade, a colaboração e a experimentação, além de proporcionar ferramentas, tempo e recursos para aprimorar e desenvolver suas ideias. Além disso, o departamento de Pessoas deve ter a capacidade de gerenciar e mitigar os riscos associados à inovação, fornecendo aos colaboradores suporte e recursos para implementar suas ideias criativas. Por fim, o departamento de Pessoas precisa ser capaz de medir e comunicar o impacto e os resultados da inovação para a organização, criando metas claras e indicadores de desempenho para a inovação, bem como implementando processos de coleta de dados e análise de resultados para avaliar o progresso das iniciativas inovadoras.

A jornada de inovação na advocacia é, sem dúvida, um processo desafiador. No entanto, ao trabalhar ativamente para desenvolver uma cultura de inovação, os profissionais que atuam no departamento de Pessoas desempenham um papel fundamental na promoção da inovação. Enquanto alguns defendem a abordagem tradicional de neutralizar o impacto negativo da hierarquia para estimular a inovação de baixo para cima, outros acreditam em um meio-termo entre ambas. Na minha opinião, é neste meio-termo que encontramos a construção de uma cultura de inovação, onde a colaboração, investigação, discordância construtiva, exploração e experimentação são valorizadas e estimuladas.

Mas como garantir que os colaboradores estejam preparados para lidar com essa cultura inovadora? A resposta é mais simples do que se imagina: através de treinamentos e capacitação. O departamento de Pessoas deve ser o catalisador da mudança na advocacia, desenvolvendo novas abordagens, estruturas organizacionais e formas de trabalho, e criando uma cultura de inovação e experimentação.

Ao se tornar um líder na criação de experiências colaborativas e no design organizacional, o departamento de Pessoas poderá ajudar a incorporar a inovação na cultura da advocacia. Deixar de lado a visão reducionista de Recursos Humanos, e passar a enxergar o RH como um facilitador estratégico para a inovação é fundamental para alcançarmos essa transformação.

A advocacia enfrenta constantes desafios, e a inovação é a solução para superá-los. Para isso, é fundamental que o departamento de Recursos Humanos (ou Departamento de Pessoas, como sugere uma visão mais humanizada) tenha um papel estratégico no processo de inovação, colocando as pessoas no centro da agenda. A maturidade da inovação deve ser medida e monitorada para garantir que a organização esteja preparada para o futuro.

O propósito é o combustível que alimenta a inovação e o engajamento. Organizações orientadas por propósitos trazem benefícios para o planeta, para as pessoas e para a lucratividade. É papel do departamento de Pessoas alinhar e ampliar esses propósitos, criando uma cultura que promova a inovação.

As pessoas são o elemento crucial da inovação. É por meio de suas ideias e colaboração que a advocacia poderá superar os desafios e moldar o futuro. É hora de encarar esses desafios de frente e trabalhar juntos para alcançar o sucesso. Não há tempo a perder. A inovação é a chave para um futuro brilhante para a advocacia. Mas lembre-se, inovação é feita por pessoas. E a hora de colocá-las no centro da transformação é agora.

 


Paulo Silvestre de Oliveira Junior - Consultor de Inovação e Desenvolvimento no escritório Machado Meyer Advogados. Especialista em Inovação Estratégica e Transformação organizacional.

(Migalhas - 03.02.2023)