A incorporação de práticas sustentáveis e a redução da pegada ambiental são questões cada vez mais presentes na pauta da aviação civil. Um desafio de alcance global. O setor é responsável por grande parcela das emissões de gases de efeito estufa e de outros poluentes, o que reforça a necessidade de empresas aéreas, governos e organismos ligados à indústria se empenharem na adoção de medidas capazes de tornar a aviação civil mais sustentável e causar menos impacto ambiental.

Um dos principais objetivos rumo a um futuro mais verde é diminuir as emissões de dióxido de carbono (CO2), gás que tem o maior impacto nas mudanças climáticas. As companhias aéreas e fabricantes de aeronaves vêm investindo em tecnologias avançadas para melhorar a eficiência do combustível e reduzir as emissões de CO2.

A incorporação dessas tecnologias e a implementação de medidas para tornar a aviação civil mais sustentável, porém, esbarram, de modo geral, na viabilidade econômica. Trata-se de uma questão complexa que, além do custo financeiro, depende de diversos fatores, incluindo o ambiente regulatório e o comportamento do mercado.

Apesar de o investimento inicial representar um desafio, no longo prazo, a incorporação de tecnologias e práticas sustentáveis pode levar à redução de custos operacionais, além de trazer benefícios reputacionais e vantagens competitivas.

Na busca para se firmar como uma indústria comprometida com a sustentabilidade, as empresas aéreas devem considerar alguns fatores fundamentais:

  • Investimento inicial: a adoção de políticas ambientais sustentáveis em geral exige grandes investimentos em tecnologias mais eficientes, combustíveis alternativos, modernização da frota e infraestrutura de aeroportos. Esses custos iniciais podem ser altos e afetar a rentabilidade das empresas aéreas no curto prazo.
  • Diminuição dos custos operacionais no longo prazo: ainda que o investimento inicial seja alto, muitas práticas sustentáveis podem reduzir os custos operacionais no longo prazo. O uso de tecnologias mais eficientes pode diminuir o consumo de combustível e levar a uma redução dos custos de operação, por exemplo. A definição de práticas de eficiência energética e gestão sustentável também pode gerar um aproveitamento mais eficiente dos recursos.
  • Benefícios de reputação: empresas que adotam políticas ambientais sustentáveis em geral são bem-vistas pelo público. A maior conscientização dos viajantes sobre as causas ambientais pode ajudar as companhias aéreas a consolidar uma base de clientes mais leais e dispostos a pagar um pouco mais por bilhetes de empresas engajadas com a sustentabilidade.
  • Regulamentações ambientais: países e organizações internacionais vêm tornando as regulamentações ambientais mais rigorosas e isso tende a se acentuar. Nesse cenário, as empresas aéreas que já implementaram políticas sustentáveis estarão em uma posição vantajosa, evitando multas e adaptações emergenciais.
  • Inovação e vantagem competitiva: as empresas que saírem na frente na adoção de tecnologias inovadoras podem garantir uma vantagem competitiva, atrair mais clientes e mais parcerias com outras empresas interessadas em reduzir sua pegada ambiental.
  • Uso de combustíveis sustentáveis: o emprego de biocombustíveis é uma estratégia promissora para reduzir as emissões de carbono na aviação, cortar custos e promover uma transição para uma realidade mais sustentável no setor.
  • Acordos internacionais e parcerias: a adoção de práticas sustentáveis pode abrir oportunidades para parcerias com outras empresas ou entidades governamentais. Essas parcerias, por sua vez, podem proporcionar vantagens econômicas, acesso a financiamentos e a uma rede maior de operações, ampliando o alcance global da empresa.

Governos e organismos internacionais atuam para tornar o setor mais sustentável

A adoção de políticas ambientais é vital para a aviação civil se firmar como uma indústria comprometida com a sustentabilidade global. Os organismos nacionais e internacionais desempenham um papel importante nesse sentido, ao fornecer diretrizes e informações que ajudam as empresas do setor a estruturar suas políticas, minimizar seus impactos ambientais e adotar mudanças tecnológicas e de procedimentos, além de implementar uma gestão ambiental mais efetiva.

No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão regulador das atividades de aviação civil, é responsável por estabelecer uma série de medidas para reduzir o impacto ambiental da aviação, trazer melhorias tecnológicas operacionais e promover o uso de combustíveis alternativos sustentáveis.

A Anac desenvolve suas atividades em conformidade com as orientações da legislação nacional e da Organização Internacional de Aviação Civil (Oaci). A agência é responsável por difundir o conceito de responsabilidade ambiental entre todos os membros da aviação civil no Brasil.

Por meio da Instrução Normativa 64/12, o órgão criou a Rede Ambiental da Anac, que propõe e elabora estudos ambientais, fornece subsídios para o desenvolvimento de novas técnicas para um crescimento sustentável da aviação no país e incentiva a adoção de novas tecnologias para ajudar a reduzir o impacto da aviação civil no meio ambiente.

Cabe também à Anac elaborar propostas de Standard and Recommended Practices (Sarps), normas e práticas recomendadas pelos países membros da Oaci, que abrangem aspectos técnicos e operacionais da aviação, incluindo os relacionados à proteção do meio ambiente.

Outro organismo que desempenha papel fundamental na busca pela sustentabilidade na aviação civil no Brasil é a Infraero, empresa pública vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos que atua no segmento de infraestrutura aeroportuária. Com 50 anos de experiência, a Infraero está entre as três maiores operadoras aeroportuárias do mundo.

A política ambiental da empresa, aprovada em janeiro de 2018, define diretrizes, princípios e programas que visam promover ações sustentáveis, como a gestão adequada de resíduos, a redução do consumo de recursos naturais e a mitigação dos impactos ambientais decorrentes das operações aeroportuárias.

Além de contar com as ações da Anac e da Infraero, o Brasil tem se engajado no Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation, o Corsia, um programa da Oaci para reduzir e compensar as emissões de CO2 provenientes dos voos internacionais.

O programa tem como meta neutralizar o crescimento das emissões de carbono e estabilizá-las nos mesmos níveis de 2020, sem afetar o crescimento do setor aéreo.

Incluído no Corsia, o Brasil iniciou o processo de monitoramento das emissões internacionais de CO2 dos seus operadores aéreos em janeiro de 2019. Os dados de emissões monitoradas e reportadas pelos operadores brasileiros podem ser encontrados na página de Dados de Meio Ambiente do site da Anac.

A partir de 2027, as emissões internacionais de operadores brasileiros que estiverem acima dos níveis observados na média do biênio de 2019-2020 deverão ser compensadas com a aquisição de créditos de carbono ou por meio do uso de combustíveis admitidos pelo Corsia – em especial os combustíveis sustentáveis de aviação.

Os governos fazem sua parte ao incentivar e regulamentar práticas sustentáveis na aviação e estabelecer metas e padrões mais rigorosos. Organizações internacionais promovem a cooperação global e o intercâmbio de melhores práticas. As companhias aéreas, além de incorporarem novas tecnologias, investem em eficiência operacional, uso responsável de recursos e programas de treinamento para pilotos e tripulações.

Já os passageiros também dão sua contribuição a esse movimento rumo a um futuro mais verde na aviação civil, ao valorizar e dar preferência a empresas aéreas que adotam medidas sustentáveis.